terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Substância contra Alzheimer é descoberta no Pará: Cumaru

Uma substância que pode ser usada no tratamento do Mal de Alzheimer foi descoberta por pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) no Cumaru, uma planta típica da região amazônica.
Segundo a pesquisa, além de mostrar propriedades neurogênicas, a substância também induziu as células-tronco a formar novos neurônios.
O Alzheimer é uma doença degenerativa que afeta a memória do indivíduo.
O resultado da pesquisa da UFPA sugere um tratamento que diminui as perdas cognitivas das pessoas afetadas pelo Alzheimer. 
Segundo o secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), Alberto Arruda, a substância foi patenteada nos Estados Unidos, mas a patente é dividida entre o Governo do Pará e também com a UFPA.
“Essa descoberta, fazendo uma rápida comparação, seria o novo Viagra. O Viagra não existia, de repente saiu como um medicamento novo, que foi e ainda é absoluto e rende bilhões para o laboratório que o lançou”, explicou.
De acordo com o governo, a expectativa de faturamento com o medicamento desenvolvido a partir da substância encontrada no cumaru é de US$ 170 bilhões. Para o governador do Pará, Simão Jatene, é um momento oportuno para efetivar o laboratório público Parafarma, que será destinado a pesquisa e ao desenvolvimento de biofármacos no estado.
“Sempre entendemos a importância da biodiversidade que temos em nosso território, por isso avançamos nos estudos para a criação do Parafarma e estamos buscando parceiros para essa implantação que deve acontecer nos próximos meses”, afirmou.
O laboratório Parafarma deve ser instalado no Parque de Ciência e Tecnologia Guamá (PCT Guamá).
Com informações do G1.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Alimentação pode reverter os sinais do Alzheimer, diz pesquisa

Jantar três horas antes de dormir e dar 12 horas de intervalo entre o jantar e o café pode destruir proteína que se acumula no cérebro de pacientes com Alzheimer

A saúde gastrointestinal está sendo associada à saúde do cérebro por pesquisadores que estudam o Alzheimer. Diferentes pesquisas apontam que incorporar alimentos fermentados, probióticos e prebióticos na dieta pode reduzir o risco de demência. Agora, um novo estudo realizado pela Universidade da Califórnia indica que o estilo de jejum também podem influenciar na saúde do cérebro e reverter os sinais do Alzheimer.

O documento aponta que depois do jantar, deve-se esperar pelo menos três horas até dormir, e que o intervalo entre o jantar e o café da manhã deve ser de 12 horas. Segundo um dos coordenadores do estudo, Dale Bredesen, esse jejum faz o corpo iniciar um processo que pode destruir o beta-amilóide, uma proteína que se acumula no cérebro dos pacientes que sofrem com o Alzheimer.

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O médico indica ainda que se uma pessoa consome atum com frequência, ela pode acumular mercúrio no organismo e essa exposição a metais pesados também tem sido associado à demência.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, entre 5% e 8% das pessoas com 60 anos podem ter Alzheimer. A probabilidade, segundo a organização, é de que, aos 95 anos, para cada mil idosos, 175 terão a doença.

A pesquisa de Bredesen dá uma nova luz sobre a doença, que não tem cura. Nove em cada dez pacientes envolvidos no estudo, que sofrem com o Alzheimer, apresentaram a reversão da progressão dos sintomas. O programa do pesquisador é rígido: inclui até abandonar desodorantes com alumínio, por exemplo, assim como otimizar os níveis de vitamina D no sangue, otimizar a saúde do intestino e seguir o jejum para normalizar os níveis de insulina no organismo. Além disso, os participantes do estudo também mantinham atividade física com frequência e faziam exercícios para o cérebro.



Idosa com Alzheimer é ameaçada de levar tiro durante arrastão em Natal



Idosa com Alzheimer é ameaçada de levar tiro durante arrastão em NatalFamília foi feita refém na noite desta terça-feira (16) no bairro de Neópolis.
Polícia divulgou retrato falado dos suspeitos; ladrões levaram carro na fuga.

Do G1 RN


Uma família foi feita refém durante um arrastão a uma residência no bairro de Neópolis, na Zona Sul de Natal, crime registrado pela polícia na noite desta terça-feira (16). Entre as vítimas havia uma idosa de 75 anos que sofre do Mal de Alzheimer - doença neurodegenerativa que provoca o declínio das funções intelectuais e reduz as capacidades de trabalho e relação social. A mulher ficou na mira dos assaltantes e foi ameaçada de levar um tiro.

Segundo o marido da idosa, ele e a mulher voltavam da igreja quando foram surpreendidos por dois homens armados. “Eles apareceram do nada e atacaram primeiramente minha filha. Depois partiram pra cima de mim com uma arma e tentaram agredir minha esposa”, disse o aposentado. Na fuga, os assaltantes levaram o carro da família. O veículo ainda não foi encontrado.

O momento mais dramático do assalto, ainda de acordo com o aposentado, foi quando os criminosos ameaçaram atirar na idosa. “Eu pedia a eles calma. Disse que não precisava, que nós poderíamos resolver”, acrescentou.

Emocionada, a filha do casal contou que a mãe tentou avançar sobre os ladrões. “Ela não tem noção do que faz. Ela queria arranhar eles. Eu tapei a boca dela e a puxei. Disse pra eles, pros assaltantes, que não fizessem nada porque ela é doente, tem Alzheimer”, recordou.










domingo, 7 de dezembro de 2014

Problemas médicos (Parte 2)


Na fase inicial da doença de Alzheimer, se houver incontinência, o simples fato de conduzir ou estimular o paciente a urinar com maior frequência apresentará bons resultados.
Uma avaliação rigorosa deve incluir um registro detalhado do histórico da incontinência, horários, frequência, severidade, duração, medicamentos em uso, diabetes, dor/ardor ao urinar, coloração e cheiro da urina, histórico de cálculo renal etc.
Registros das ocorrências bem-feitos e analisados podem demonstrar onde está a chave da questão, minimizando os episódios a partir de medidas simples, como a restrição monitorada de líquidos a partir de um determinado horário, em casos de incontinência noturna.
O registro feito pelo cuidador deve conter informações do comportamento da incontinência e do hábito urinário a cada duas horas, por um período de 48 horas.
A Tabela 4.27.1 ilustra um registro simples, prático e com informações fundamentais Tabela 4.27.1 Registro de ocorrências
Hora

Estado
Seco (S)
Molhado (M)

Quantidade
Pouco (P)
Regular (R)
Muito (M)

Medicações

Líquidos/Alimentos

Observações

8

M

M

Diurético



Avisou que estava urinando

10

S

X





Foi conduzido
e urinou

12

S

X



Almoço + sucos



14

M

P



Lanche + leite

Não avisou

16

S

X





Pediu e foi conduzido
Urinou

18

M

R



Jantar + sucos

Dormindo

Esses registros auxiliam decisivamente na avaliação da incontinência e devem ser preenchidos com rigor.

Algumas medicações podem ajudar no controle da incontinência urinária e devem ser prescritas pelo médico caso a caso.
As drogas anticolinérgicas devem ser evitadas em paciente com doença de Alzheimer, pois podem desencadear e/ou agravar os quadros de incontinência. Além dessas providências, quando a incontinência se torna irreversível e esgotam-se as outras possibilidades de êxito, utilizam-se outros recursos que devem ser adaptados individualmente às necessidades.
Um paciente incontinente vítima de um AVC (derrame) pode se beneficiar mais com o uso de fraldas, pois poderá, com a mão que conservou os movimentos,auxiliar e colaborar para urinar em horários predeterminados.
 Já para pacientes restritos ao leito e demenciados, lençóis impermeáveis de borracha ou com gel absorvente são mais apropriados.
Para pacientes demenciados que andam, o uso de fraldas com gel absorvente é indicado, mas, se houver incontinência fecal associada, outro recurso deverá ser utilizado.
As calças plásticas devem ser usadas com muita cautela, pois são frequentemente responsáveis por processos infecciosos.



Figura 4.27.8

A camisinha (camisa-de-vênus) com cateter, conhecida como uripen, é útil para pacientes do sexo masculino. Esse recurso apresenta complicações, especialmente as lesões de pele por alergia.
Para as mulheres não há, infelizmente, até o momento um coletor externo realmente eficiente. 
Soluções inusitadas têm sido propostas no manejo da incontinência urinária, como os grampos de pênis, confeccionados de material de consistência semelhante à espuma de borracha, comprimindo a uretra e evitando a incontinência. Previsivelmente, por serem incômodos e antinaturais, não obtiveram sucesso em sua utilização.
Todos esses artefatos, especialmente quando o paciente continua em atividade, devem estar disfarçados, dissimulados, escondidos dentro das roupas, para a preservação da dignidade.
O uso de comadres para mulheres e papagaios para os homens pode ser útil, especialmente à noite e para os pacientes restritos ao leito.
Os vasos sanitários portáteis podem ser utilizados em viagens quando não se sabe haverá um banheiro disponível nos horários predeterminados.
Alguns cuidadores usam a técnica da recompensa, oferecendo doces e guloseimas, quando o paciente consegue se manter seco por determinado período de tempo. Essa é mais uma estratégia questionável, porém certos cuidadores afirmam obter resultados positivos.


A incontinência fecal é mais grave que a urinária e, quando se instala, dificilmente é reversível. É necessário que ao primeiro sinal de incontinência fecal alguns pontos sejam checados:

Presença de doença anorretal
Uso abusivo de laxativo
Presença de impactação fecal
Fecalomas
Um exame proctológico completo se impõe.
Uma dieta direcionada para regularizar o funcionamento intestinal, lentificando-o dentro de rígidos critérios, dietas constipantes, indução de constipação controlada por medicamentos e predeterminação dos horários para a evacuação são os recursos disponíveis que, se convenientemente utilizados, reduzem o grau e a severidade dessa trágica complicação.
A antecipação do acidente é um dos melhores instrumentos no gerenciamento da incontinência fecal. Conduzir o paciente em horários predeterminados apresenta bons resultados. Esse procedimento pode ser demorado até tornar-se rotina, porém os resultados compensam o esforço.


Ações como sentar o paciente no vaso sanitário e ficar junto a ele conversando calmamente, ouvir música, abrir a torneira da pia (para o ruído tentar estimular a micção), verificar se o ambiente está calmo e que não existem outras pessoas no recinto (que poderiam estar inibindo o paciente) são medidas adicionais mas fundamentais no sucesso do enfrentamento dessa crucial questão que atinge frontalmente a dignidade do indivíduo.
Se o uso de sonda vesical permanente tiver que ser utilizado, por causa de escaras ou outras condições, a sonda deverá ser de diâmetro e balão adequados. Sondas com balão e calibres pequenos são comumente responsabilizadas pela perda de urina ao redor da sonda, porém esse é um equívoco, uma vez que normalmente esse fluxo se deve à contratura vesical, e, dessa forma, a troca por uma sonda balão e diâmetros maiores só agravará o problema, podendo causar erosão uretral e incontinência fecal.
Detectado o fato, o uso de medicações específicas contribui para a resolução do problema.
A sonda de demora deve estar conectada a um coletor fechado e não deve ser lavada com antissépticos nem fechada por alguns períodos.
A técnica de treinamento da bexiga, clampeando a sonda por alguns períodos está superada e pode perpetuar as infecções do aparelho urinário.
As sondas vesicais devem ser trocadas, no máximo, a cada 3 semanas, por profissional, com rigorosa técnica e assepsia.

Problemas médicos (Parte 1)

Além da própria doença de base, o paciente portador da doença de Alzheimer apresenta algumas características clínicas peculiares. A rigor, primeiramente, devemos entender que o paciente pode apresentar todas as doenças que normalmente acometem preferencialmente sua faixa etária, mas é importante considerar a dificuldade dele em comunicar os sinais clássicos de alerta, como dor, náuseas, ardência ao urinar, desconforto respiratório, palpitações, tonturas etc.
O exame físico também poderá estar muitas vezes prejudicado em virtude da falta de colaboração do paciente no desenvolvimento de algumas manobras semiológicas necessitando por parte do médico prática e sensibilidade na detecção de alterações.

Além disso, o portador da doença de Alzheimer apresenta algumas alterações e complicações com maior freqüência e são sobre elas que nos deteremos nesta seção.
Os sinais de alerta podem ser de grande ajuda ao cuidador na suspeita de que algo errado possa estar ocorrendo. Esses sinais de alerta são verdadeiros códigos, muitas vezes apresentando-se de maneira diversa de doente para doente. O estreito relacionamento entre o paciente e o cuidador gera um verdadeiro diálogo entre eles, e, assim, de acordo com alguns dados indiretos, pode-se detectar precocemente esses sinais, chamados de sinais de alerta.


Uma das palavras-chave para um convívio harmonioso com o paciente é planejamento. É possível prever e antecipar a ocorrência de algumas situações. Ao pensar na possibilidade do acidente, é possível traçar estratégias para, da melhor maneira possível, contornar a situação. Por exemplo:  se um paciente é vagante e invariavelmente tenta abrir a porta, pode-se antecipar que ele é um sério candidato à evasão e consequentemente pode se perder e sofrer um acidente de trânsito. Por sua vez, pacientes limitados ao leito em função de doenças crônicas e invalidantes, porém fumantes, são sérios candidatos a deflagrar um incêndio.
As perguntas a serem feitas são:

Que perigos podem ser previstos?
Que medidas devem ser adotadas?


De modo geral, algumas medidas ou providências servem para todos os casos, como manter-se calmo e descansado.
Fácil de dizer e difícil de fazer. Todavia, esse conselho contém uma advertência maior. Está comprovado que os acidentes e as situações de emergência ocorrem, com muito mais frequência, quando quem cuida está apressado, tenso e cansado. Algumas providências aqui propostas podem contribuir para o bem-estar do cuidador e minimizar o impacto dessas complicações.
Os membros da família e as pessoas que convivem no mesmo am-biente devem ser avisados da possibilidade de piora do quadro demencial do paciente, com confusão, irritabilidade e mesmo forte agressividade quando presenciam, sem entender, brigas e discussões entre pessoas.Ambientes tensos favorecem a ocorrência de acidentes.
É fundamental ter em mãos telefones úteis, como o do corpo de bombeiros, de parentes e amigos, do médico e outros que o cuidador julgar importantes.
Alguns aparelhos de telefone possuem memória interna e com apenas um toque as ligações são acionadas. Esses aparelhos representam um bom recurso, pois, quando há uma situação de pânico, a coordenação entre lembrar, encontrar o número e fazer a ligação corretamente pode se tornar uma tarefa difícil e comprometer a rapidez na solicitação de socorro.
Medidas complementares como identificação do paciente, checagem sistemática de informações obtidas e reavaliação constante do grau de autonomia e dependência são de grande valia. O cuidador deve reavaliar sempre o ambiente, checando se existem possibilidades de acidentes, acesso ao registro de gás etc.
Não se deve nunca acreditar naquilo que o paciente diz, sem confirmar a informação. Se ele disser “Comi bem, fechei a torneira, apaguei o cigarro”, é fundamental confirmar.


Outro aspecto importante com respeito a situações de emergência é a de reconhecer quando se está realmente diante de uma verdadeira emergência.
Um incêndio é uma emergência, e todos sabem disso, mas algumas situações aparentemente emergenciais podem ser resolvidas com calma e boa informação.
A diferença entre essas condições é difícil, especialmente porque em geral o cuidador não foi preparado e treinado para ter esse discernimento, especialmente nas questões ligadas à saúde. Os sinais de alerta dão uma segura diretriz a respeito desse assunto, porém algumas situações de real emergência devem ser identificadas e contornadas imediatamente, sob pena de resultarem em gravíssimas consequências, até a ocorrência de óbito.
Uma dessas emergências é o engasgamento. Se um paciente engasga e apresenta comprometimento de sua respiração, deve-se agir imediatamente; não haverá tempo para pedir socorro. O engasgamento é ocorrência relativamente comum nos pacientes, uma vez que é relacionado ao ato de deglutir, que pode estar comprometido por causa da diminuição da coordenação dos movimentos envolvidos.
A primeira providência contra o engasgamento é a prevenção. Não se devem oferecer ao paciente alimentos ou guloseimas que sejam difíceis de serem deglutidos. Balas duras, nozes, avelãs, amendoim, chicletes e mesmo certas drogas são perigosos. Evitar alimentos sólidos, secos e em grandes pedaços. Os alimentos picados, tenros, pastosos ou semi-sólidos são os mais indicados.
Outra providência é não alimentar o paciente em posição deitada, em estado de sonolência ou agitação, condições que favorecem a aspiração.
Os alimentos muito liquidificados e os líquidos à primeira vista podem parecer ser de fácil deglutição, mas não são e favorecem os episódios de aspiração. Os alimentos semi-sólidos e pastosos são mais fáceis de deglutir, pois passam por um processo anterior de preparo da musculatura envolvida, pela mastigação.
Se o paciente engasgou, mas respira sem dificuldade e tosse para eliminar a substância de sua árvore respiratória, não há nada a ser feito. O mais importante nesse caso é manter a calma e assisti-lo até que o episódio esteja superado. Uma caminhada ao ar livre após o episódio é sempre uma medida recomendável, pois acalmará tanto o paciente como o cuidador.
Se o paciente engasga e não pode tossir ou respirar, estamos diante de uma real emergência.
A primeira medida é a tentativa de remoção manual do agente causal, que pode ser alimentos ou mesmo próteses dentárias. A possibilidade de o cuidador ser mordido existe, porém instintivamente o paciente costuma colaborar nessa manobra.
Tapas nas costas não costumam ser eficientes quando o engasgamento é realmente sério. Um procedimento conhecido e de fácil execução é a manobra de Heimlich: o cuidador se posiciona atrás do paciente, abraça-o com as mãos na região imediatamente abaixo das costelas, na região do estômago, e faz uma compressão profunda e rápida, com o objetivo de expulsar o agente obstrutivo. É fundamental que o cuidador seja treinado para realizar essa manobra para estar preparado para efetuá-la quando for necessário.


 


Como se comportar diante de acidentes e outras situações

Se o paciente se perder, é fundamental manter a calma, procurá-lo no bairro e perguntar aos vizinhos. Se mesmo assim o paciente não for encontrado, o cuidador deve dirigir-se à delegacia do bairro para comunicar o desaparecimento, pois assim os mecanismos necessários para encontrá-lo serão acionados. É importante ter uma foto do paciente para pedir informação e solicitar auxílio de forma objetiva. Após esses procedimentos, reavaliar todos os acontecimentos anteriores ao desaparecimento:

Houve alguma modificação no ambiente?
Estaria o paciente excessivamente pressionado?
Foi pedido ao paciente alguma coisa que, não podendo atender, o fez sentir-se constrangido, frustrado, angustiado?


Depois de encontrado, paciente e cuidador devem fazer um passeio com um  itinerário definido, mostrando ao paciente algum ponto de referência será salutar e muitas vezes de efeito extremamente didático e calmante. Além de criar um determinado hábito, o itinerário percorrido poderá ser o caminho instintivamente escolhido por ele, na ocorrência de outro acidente.

Sintomas e sinais de alerta





Torna-se evidente para o cuidador, ante a multiplicidade de sinais, 
a necessidade de poder contar com uma orientação segura em seu dia a dia. O médico que assiste o paciente deve possuir algumas características, como facilidade de ser encontrado e disposição em fornecer uma orientação segura à distância.
 Os sinais de alerta podem ser de grande ajuda na suspeita de que algo errado possa estar ocorrendo.
Serão apresentados a seguir os principais sinais de alerta, especialmente úteis para informar cuidadores de pacientes frágeis e demenciados

Não se deve esquecer de que os sinais de alerta podem ser ocorrências benignas, sem maior gravidade ou uma indicação de intercorrências que necessitam de imediata intervenção. Só o médico poderá fazer essa importante distinção com segurança.

PRINCIPAIS SINAIS DE ALERTA

· Piora súbita do estado geral;
· Sonolência;
· Mudança brusca do comportamento habitual;
· Febre;
· Mudança de peso;
· Alterações do apetite;
· Alterações do hábito intestinal;
· Cianose;
· Tosse produtiva;
· Falta de ar;
· Urina escura/mal cheirosa;
· Incontinência urinária;
· Incontinência fecal;
· Distúrbios súbitos do aparelho locomotor.


Pela evolução da doença de Alzheimer, a piora do quadro clínico com agravamento súbito do estado cognitivo, aparecimento de delírio e alucinações não é esperada. Uma alteração de comportamento, com agressividade e agitação psicomotora de brusca instalação deve ser investigada clinicamente, podendo ser resultado de uma doença subjacente como, infecção, retenção de urina, impactação fecal, intoxicação por drogas, assaduras, presença de insetos nas roupas etc. A primeira providência é realizar um exame físico minucioso na tentativa de detectar a causa do sintoma.


Sonolência e apatia são sinais importantes que podem estar relacionados a várias causas, geralmente graves como, desidratação, diabetes mellitus, efeito colateral de drogas, processos infecciosos, arritmias, que devem ser identificadas, corrigidas e tratadas prontamente.


A febre é um sinal de fácil constatação e de extrema importância. Apesar de os pacientes, muitas vezes, pertencerem a uma faixa etária em que a febre pode ser inexistente, mesmo na vigência de processos infecciosos, é um dado que, se positivo, representa um sinal de infecção. É conveniente que a temperatura seja aferida regularmente.


Palidez e sudorese podem indicar várias intercorrências, desde uma hipotensão arterial por uso de diuréticos até insuficiência coronariana aguda, infarto do miocárdio, embolia pulmonar etc. A hipoglicemia, falta de açúcar necessário para a geração de energia suficiente para o organismo, como em casos de jejum prolongado para a coleta de exames ou quadros de inapetência prolongada, também deve ser cogitada.

Coriza e espirros 
Coriza e espirros são sinais normalmente associados ao resfriado comum ou a estados gripais.


Geralmente relacionadas ao ato de deglutição de ar com saliva, a aerofagia e as eructações estão associadas a estados ansiosos, doenças pépticas como gastrites e úlceras gastroduodenais e disfunções do trato biliar. Quando induzidas espontaneamente, associam-se com úlceras pépticas, hérnia de hiato, angina do peito etc.
A deglutição rápida, sem mastigação, o uso de bebidas gasosas, o uso de medicação anticolinérgica e antiácidos, problemas dentários e próteses mal ajustadas também podem causar esses sinais.



Certos pacientes costumam ingerir grandes quantidades de alimento. Esse fato pode estar relacionado a hábitos prévios do indivíduo e/ou decorrente de determinadas doenças, como diabetes, hipertireoidismo, parasitoses intestinais etc.

Pode ser decorrente de processos infecciosos agudos, tuberculose, tumores malignos (especialmente o câncer gástrico), insuficiência renal, cirrose hepática, insuficiência cardíaca, intoxicação medicamentosa especialmente por digitálicos, hipotireoidismo etc.



Trata-se de um sinal grave que determina imediata investigação. Várias condições estão envolvidas no surgimento de cianose: insuficiência cardíaca, pneumonia, embolia pulmonar, enfisema pulmonar, intoxicação por anilina, aterosclerose obliterante etc.


A constipação intestinal é uma condição que deve ser analisada, pois pode representar desde uma simples alteração decorrente do hábito alimentar e da falta de atividade ou também ser devida a quadros extremamente graves que se instalam abruptamente como abdome agudo, pancreatite aguda, uso de drogas, infecções em geral e obstrução intestinal. As constipações crônicas podem estar relacionadas com doenças como tumores anorretais, hemorroidas, fissuras e fístulas.
As alterações endócrinas como o hipotireoidismo, a insuficiência supra-renal e o hipertireoidismo podem levar a quadros de constipação.
Como para os outros sinais, um exame clínico completo é fundamental, complementado por toque retal para afastar a possibilidade de um fecaloma (que se trata de um endurecimento das fezes na ampola retal e no segmento inferior do sigmoide) que, de acordo com a gravidade, pode necessitar de cirurgia para a sua remoção.
A manutenção de um registro diário quanto aos hábitos intestinais é de extrema importância, pois permite uma avaliação correta do ritmo intestinal.


Vômitos e diarreias podem ser sinais sem gravidade. A persistência, porém, requer investigação detalhada, ante a enorme gama de possibilidades diagnósticas, além de serem potencialmente geradores de 
estados graves de desidratação. Pacientes demenciados que apresentam vômitos e diarreia com distensão abdominal devem ser submetidos a toque retal para eventual detecção de um fecaloma.
Pacientes com fecaloma podem apresentar a chamada diarreia paradoxal, ou seja, apesar de haver na ampola retal uma massa de fezes endurecidas, fezes malformadas acabam sendo eliminadas pelos lados do fecaloma. Esse fato é de suma importância, pois os familiares relatam ao médico que o paciente está com diarreia, e a tendência é, com base nessa informação, que os pacientes recebam medicação obstipante, o que agrava consideravelmente o quadro clínico.


O aumento de sede pode estar relacionado com diabetes mellitus e estados de desidratação.


O emagrecimento sem perda de apetite podem estar correlacionados especialmente com hipertireoidismo, diabetes, síndrome de má-absorção ou por excesso de atividade física sem a ingestão adequada de calorias, como ocorre em pacientes chamados vagantes, que andam o dia inteiro de um lado para o outro, distúrbio comum na doença de Alzheimer.


Condição especialmente relacionada com a hipertensão arterial que necessita de imediata avaliação médica. A epistaxe pode ser causada também pela presença de um corpo estranho inserido na narina, por infecções, estados gripais, traumatismos, alterações da coagulação sanguínea etc.


Exantemas, halitose (mau hálito), urina escura e malcheirosa, sangramento (na boca, no ânus e nos genitais), corrimentos vaginais, olhos amarelados, fezes muito claras ou muito escuras, perda involuntária de urina ou fezes, inchaço da face e das pernas, tosse seca ou produtiva, escarro amarelado, chiados no peito, coceiras, alterações na pele, retenção de urina, desmaios, soluços prolongados, calafrios, tremores e convulsões são sintomas que requerem investigações detalhada pelo médico.
Não é raro observarmos pacientes que andavam normalmente e de repente sentam-se e recusam-se a andar. As quedas não comunicadas ou mesmo as não observadas podem ocorrer, e a possibilidade de fraturas, especialmente de colo do fêmur, não deve ser descartada. A dor intensa na região lateral externa da articulação da coxa com a bacia e a rotação externa do pé, e o encurtamento de um dos membros inferiores, quando observados no leito, são fortes indicativos de fratura de colo de fêmur.
É, portanto, sensato informar aos cuidadores que acidentes podem ocor-rer e que o fato de comunicarem o acontecido é de extrema importância.
Outro fato é que, mesmo com dor, os pacientes com DA são capazes muitas vezes de continuar caminhando, o que pode acarretar sérias consequências.




Além dos sinais de alerta, alguns sintomas são extremamente importantes e comuns.


Tornozelos: os edemas nos tornozelos são resultado da acumulação de líquidos pela força da gravidade. São indolores e geralmente afetam ambos os lados. Se pressionados, a marca do dedo fica impressa. A intensidade é variável, de leve a grande. Trata-se de um sintoma importante e deve receber atenção médica.
As causas mais comuns são: insuficiência cardíaca congestiva, hipoalbuminemia, doenças graves (renais, pulmonares e hepáticas) e doenças vasculares.


Pessoas idosas que ficam sentadas por muito tempo podem apresentar edema sem que isso necessariamente seja doença (edema postural). É importante considerar que os edemas posturais sempre são discretos e geralmente assimétricos. O médico sempre deve ser consultado para que não se façam prejulgamentos, considerando ser esse mais um sintoma “normal” do envelhecimento.


No peito: Podem ser de origem cardíaca ou não. As de origem cardíaca geralmente são acompanhadas de outros sintomas, como tonturas, palpitações, palidez, dificuldade para respirar e sudorese. São sinais graves que necessitam de avaliação médica em caráter de urgência. As dores no peito não cardíacas podem ser decorrentes de várias causas, sendo a de origem muscular a mais frequente.
Nas pernas: Varizes, insuficiência circulatória, neuropatia diabética, ciatalgia e infecção urinária.
Abdominais: Pessoas idosas com dor abdominal acompanhada de febre ou de sangramento aparente têm uma taxa de mortalidade de 15% a 50%. Pode ser um sintoma grave ou não. Se essas dores forem acompanhadas de sangramento, será um caso de urgência médica. Dores muito intensas normalmente são devidas a condições sérias como: problemas circulatórios (infarto do miocárdio, isquemia mesentérica, ruptura de aneurisma abdominal e hemorragias internas), colecistite aguda, peritonites, pielonefrites e cólica nefrética (por cálculos renais). Problemas gástricos (estômago) costumam gerar dor na parte superior do abdome, nas vias biliares, na vesícula (na parte superior direita) e no apêndice (na região inferior direita). Isso, porém, não é regra e nem sempre a localização da dor reflete o órgão acometido.
No hálux  (dedão do pé): Sintoma muito comum de gota.



As causas principais de tosse são: tabagismo, bronquites, asma, pneumonias, refluxo gastroesofágico, câncer de pulmão, metástases e efeito adverso de anti-hipertensivos (inibidores da enzima de conversão de angiotensina) , captopril e enalapril).

.Fonte: AlzheimerMed

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Distúrbios do comportamento




Os distúrbios comportamentais são, sem dúvida, um dos aspectos mais angustiantes no dia a dia. Deve-se considerar que determinados comportamentos, como gritar, vagar pela casa, episódios de irritabilidade e agressividade, podem ser uma forma de comunicação, a exemplo do choro dos recém-nascidos. Algumas alterações comportamentais são relativamente aceitáveis, por não apresentarem riscos e não necessitarem de tratamento.
Apresentamos, a seguir, o exemplo de um paciente de origem alemã com algumas dificuldades com o nosso idioma que foi internado em uma clínica geriátrica para tratamento. Esse paciente tinha sido um alto executivo, que passou toda a sua vida em viagens internacionais, tendo sempre ao seu lado inúmeros assistentes. Acostumado ao seu estilo de vida, fez grande amizade com outro paciente também portador de doença de Alzheimer, de origem mais humilde, que foi açougueiro durante toda a vida. Cresceu entre os dois um grande companheirismo. Aonde um ia, o outro ia também.
Os dois adaptaram-se dentro de um relacionamento hierárquico em que o paciente alemão era o chefe, e o outro, seu assistente.
Invariavelmente, ao passarem defronte à administração onde computadores eram operados, o “chefe” ordenava à secretária: “Bom dia. Por favor, faça duas reservas no próximo vôo para Munique, para mim primeira classe e classe econômica para ele”. Percebe-se que, apesar da total falta de realidade, o senso de hierarquia continuava preservado.
Aparentemente esse fato, que se tornou rotina, acalmava-o e conferia-lhe tranquilidade e segurança.
Como esse tipo de comportamento era absolutamente inofensivo, nenhuma restrição foi imposta.
Surpreendê-lo seria dizer-lhe que lá não era um balcão de viagens aéreas e que, portanto, não haveria maneira de ele voltar para a sua terra com o seu assistente, de acordo com a hierarquia que ele estava acostumado a respeitar.
Diante de um comportamento anormal, sem causa aparente, devemos investigar e, pelo método da exclusão, tentar descobrir se por trás dessa manifestação não há um código de comunicação embutido.
Três fatores, basicamente, afetam o bem-estar e alteram o comportamento: fatores relativos ao meio ambiente, aqueles relacionados ao padrão dos cuidados ministrados e os determinados pelas condições físicas do paciente. Dependendo da alteração de comportamento apresentada, certas providências podem ser adotadas para minimizar e até contornar determinadas situações.

Fatores ambientais
Quanto ao ambiente, deve-se checar se a temperatura está adequada, muito frio ou muito calor, luz ofuscante ou ambiente escuro, muito barulho, muitas visitas, isolamento, sensação de solidão, sombras simulando vultos de pessoas ou animais, vento fazendo ruídos aterrorizantes etc. O cuidador deve observar e sentir o ambiente, colocando-se no lugar do paciente percebendo o local da mesma maneira que ele. Dessa maneira, poderá tomar algumas providências altamente positivas para contornar determinados comportamentos indesejáveis.

Fatores relativos aos cuidados

Dependendo do nosso comportamento e tom de voz, o paciente saberá se estamos calmos ou não, reagindo de variadas formas.
O cuidador deve reavaliar, repensar o seu comportamento.
Deve também, fazer um pequeno intervalo, respirar e, com calma, reavaliar se o seu comportamento,humor, gestos, tom de voz e atitudes estão provocando as reações indesejáveis que esta enfrentando, e tentar contornar. Se não sabemos ou não estamos certos se estamos agindo adequadamente, mudar a abordagem
e modificar o comportamento que vinha sendo adotado é uma boa, e por vezes, surpreendentemente positiva estratégia terapêutica.



Fatores físicos do paciente
Por último, existem os fatores relacionados ao próprio paciente, os quais normalmente estão ligados ao seu bem-estar físico. Fome, sede, frio, calor, dor, presença de fezes ou urina nas roupas, cansaço, constipação intestinal, coceiras e outras possibilidades, como querer sair da cama e mudar de posição, e mesmo a presença de alfinetes ou insetos devem ser pensados como uma possibilidade de desconforto.

Manejo

Aspectos gerais
O primeiro passo ao abordar as alterações de comportamento é identificar a causa, o fator desencadeante. Detectadas as alterações, deve-se enfrentar um distúrbio de cada vez e nunca tentar resolver todos ao mesmo tempo.
Alguns pacientes, mesmo em fases mais adiantadas, podem responder a perguntas simples e diretas; então, não se deve hesitar em perguntar, pois, mesmo não respondendo verbalmente, eles podem de alguma maneira fornecer indicações negativas ou positivas à indagação do cuidador.
Uma atitude que certos cuidadores costumam adotar na tentativa de contornar os comportamentos indesejáveis é usar recompensas. Se o paciente colabora, recebe um prêmio.
Não discutimos o mérito do método, não o apoiamos nem o reprovamos, apenas registramos que várias famílias encontram soluções não usuais que devemos conhecer.

Definida a estratégia, devemos solicitar a todos que estão envolvidos diretamente com o paciente para colaborarem adotando a mesma conduta.

Uma regra geral é a de não valorizar os distúrbios, demonstrando total desinteresse pelo que está ocorrendo.

Por outro lado, devemos vivamente manifestar o nosso contentamento com as atitudes positivas que o paciente venha a demonstrar.

A fronteira entre como se comportar nessas e em outras situações é muito pouco definida e deve ser ditada pelo bom senso. O que funciona para um paciente pode não ser positivo para outro. Não existem fórmulas mágicas de comportamento a serem adotadas.
A experiência e a vivência de cada um, de acordo com as variantes culturais, ambientais e outras, determinarão as possibilidades de agir corretamente.
O fórum do Google® (http://groups.google.com/group/doencade-alzheimer?hl=pt-BR) é de grande valia, pois nele é possível expor determinadas situações e contar com a opinião e vivência de outros cuidadores e de profissionais de saúde.
Um aspecto filosófico, com respeito ao enfrentamento dessas questões, é a sensação de impotência e frustração quando tentamos tudo e o paciente mantém as mesmas alterações. Há de ser prático nesse caso.
Se o cuidador está consciente do trabalho que vem realizando, convicto de que tenta encontrar formas de contornar as alterações comportamentais, deve sentir-se tranquilo, independentemente do resultado final. Se tiver sucesso, ótimo. Porém, se as estratégias utilizadas fracassarem, novas alternativas devem ser pensadas. O importante nesse processo é insistir sempre, continuar tentando.
É provável também que o cuidador tenha obtido resultados extremamente positivos com soluções e atitudes nunca descritas ou mesmo imaginadas, as quais devem ser divulgadas para ajudar outros familiares.

Vagância

A vagância é o distúrbio de comportamento que, sem dúvida, expõe o paciente a alto risco de danos físicos. O fato de o paciente andar sem parar, sem rumo, gera também alto sentimento de angústia ao cuidador, instalando-se uma considerável e nociva tensão ambiental. O temor que sentimos pela possibilidade de o paciente sofrer uma queda, sair do ambiente controlado, subir ou descer escadas, sair para o exterior da casa e correr o risco de um atropelamento, por não discernir o risco, torna a tensão e a angústia cada vez maiores.
Há pacientes que permanecem vagando por um percurso curto, indo e vindo, outros elaboram um percurso extenso, passando e encostando por móveis, indo até paredes, retornando ao ponto inicial e repetindo esse processo inúmeras vezes.
A vagância pode tornar-se mais angustiante ainda quando o paciente, além de vagar, repete sem parar e em voz alta alguma palavra como “mamãe, mamãe” ou mesmo o nome do cuidador durante todo o dia sem descanso, sem parar.
Esses tipos de “vagância—sonetos de repetição” invariavelmente determinam uma institucionalização definitiva pela evidente impossibilidade de convívio.
A vagância noturna é ainda mais problemática pelos incidentes e transtornos que acarreta.
Alguns pacientes, especialmente na fase inicial, quando ainda mantêm alguma autonomia para sair sob pretexto de algum afazer na vizinhança, podem ser encontrados vagando por estarem perdidos e desorientados.
Qualquer mudança na rotina do paciente, como mudança de bairro, deve ser avaliada.
A certos doentes, caso estejam familiarizados com o bairro e com a vizinhança, pode-se permitir saídas curtas, sob supervisão. Nas mudanças de bairro, a manutenção dos hábitos que permitiam saídas curtas, relativamente vigiadas, deve ser reavaliada, uma vez que o paciente pode sentir-se totalmente perdido e desorientado.
Alguns autores teorizam que o paciente perambula, vaga, porque está à procura de algum local para estar em segurança. Outros sugerem que ele estaria em busca de seu passado. Ainda há aqueles que acreditam que esse ato ocorre em virtude da necessidade de despender energia física e mental ou pela necessidade de interação social.


A primeira medida é identificar o agente causador da vagância. Todos os comportamentos indesejáveis podem estar ligados a alguns fatores e é necessário identificá-los.
Na fase inicial, quando o paciente ainda possui algum grau de autonomia e faz passeios desacompanhado, é possível que num determinado momento se sinta perdido e necessite de alguma orientação adicional que o faça reencontrar-se. Certos familiares, nesses casos, fornecem ao paciente algumas indicações e orientações precisas de como se comportarem caso se percam (número de telefone etc.).
É importante lembrar que, na fase inicial, os pacientes podem ler e entender ordens simples e claras e a limitação do espaço e da autonomia deve ser avaliada para a estimulação de independência deles, dentro de parâmetros racionais de segurança.
O exercício físico controlado, se o paciente tem necessidade de gastar energia, é uma medida adequada e trará bons resultados. As atividades recreacionais alternativas também devem fazer parte do arsenal terapêutico de medidas complementares.
É possível reverter a vagância convidando o paciente a fazer ou ver algo em companhia do cuidador.
Mesmo com todos os esforços, muitas vezes a vagância não pode ser evitada. Nesses casos, é necessário adotar medidas que protejam o paciente e tornem esse comportamento mais aceitável e seguro. Deve-se reservar um local livre de móveis, tapetes e de qualquer obstáculo para que ele ande com segurança.
Sapatos com solado de borracha, além de assegurarem melhor equilíbrio e aderência ao solo, evitam que se ouça o barulho dos passos.
Várias tentativas têm sido feitas por cuidadores no controle da vagância. Alguns defendem que manter a televisão ligada ou promover uma conversa tranquila sobre o passado, com a ajuda de um álbum de fotos da família ou um passeio, poderia ajudar a diminuir a vagância. Outros já, à beira do desespero, optam por revestir o piso com material antiderrapante e macio e trocar as portas e janelas por material acústico à prova de som. Preparam o ambiente de modo a reduzir a possibilidade de quedas e acidentes, e trancam as portas, deixando que o paciente vague à vontade. Outros chegam a mudar seus aposentos para o mais longe possível do quarto do paciente, trancam as portas e usam protetores auriculares.
As possibilidades são inúmeras, e, a cada caso, as alternativas criativas devem ser convenientemente exploradas.
As restrições ao leito normalmente só contribuem para o desencadeamento de reações catastróficas, agressividade e irritabilidade. A restrição física é o último recurso a ser utilizado.
É importante também tentar detectar se o paciente não está tentando externar algum medo ou desconforto e esteja usando esse comportamento de modo reativo. Como o paciente vagante costuma ter horário predeterminado para iniciar a sua peregrinação, é aconselhável que o cuidador antecipe-se a isso e promova longas caminhadas ou exercícios físicos de modo a estimular um gasto extra de energia.
Ao cabo de alguns dias, será possível analisar se essa providência teve algum efeito sobre o comportamento indesejável. É importante salientar que a atividade física deve ser bem dosada, pois o excesso de cansaço pode também desencadear quadros de agitação.
Especialmente nos casos de vagância noturna, uma ótima medida é dizer ao paciente, com carinho, que está escuro porque é noite, que é hora de dormir, que ele não está só, que todos irão dormir, inclusive ele, que tudo está bem etc. Essas mensagens, repetidas várias vezes e complementadas com o contato físico carinhoso, têm efeitos terapêuticos extremamente potentes e positivos.
Às vezes, a vagância seguida de agitação está ligada a hábitos do passado. Vejamos o exemplo a seguir.
Um paciente foi gerente de loja, no centro da cidade, durante toda a vida e tinha entre as suas obrigações a responsabilidade de abrir e fechar a loja todos os dias. Como ele era o único que possuía a chave, sabia que se não estivesse no local no horário certo comprometeria todo o funcionamento comercial, que os outros funcionários não poderiam trabalhar etc. Esse paciente melhorou consideravelmente quando os cuidadores entenderam suas preocupações e passaram a dizer a ele ou que era feriado, domingo ou que já haviam providenciado a abertura da loja, que tudo corria bem e que não se preocupasse.
Uma maneira eficiente de realizar a investigação das possíveis causas de vagância é a manutenção de um registro diário de ocorrências. Esse registro é extremamente útil, pois permite relacionar os fatos ocorridos a eventuais comportamentos reacionais. O registro deve conter informações que possibilitem identificar se a vagância teve início a partir de algum fato ou emoção, se houve alguma palavra ou frase que a desencadeou etc.
Esgotadas todas as outras possibilidades de lidar com a vagância, existem determinados instrumentos para restringir a movimentação do paciente. Esses recursos são necessários quando se sabe que a segurança do paciente está seriamente ameaçada. A decisão acerca do uso desses aparatos deve ser tomada sob orientação médica. A restrição física pode ser feita com recursos domésticos, como o uso de um lençol na região da cintura de modo a não dificultar a respiração, quando estão mais debilitados. Algumas cadeiras são adaptadas de forma que tampa frontal impeça a saída do paciente. Existem cadeiras mais sofisticadas que, por serem reclináveis, mantêm o paciente numa determinada inclinação, permitindo que ele realize as atividades normais, como comer, ver televisão etc., mas não possa levantar-se e sair sem auxílio. Essas cadeiras possuem cintos de segurança como medida adicional de segurança. Essas restrições, às vezes, são inadequadas.
Alguns pacientes aumentarão significativamente a frequência e intensidade de episódios de agitação psicomotora e confusão mental quando restringidos.
Se percebe-se que o paciente vaga à procura de segurança em seu passado, colocar ao alcance dele objetos conhecidos que representem momentos importantes de sua vida, como diplomas, medalhas ou fotografias antigas de família, poderá, de alguma maneira, suprir o que ele estava buscando e, teoricamente, reduzir a vagância.
Em casos extremos, os medicamentos devem ser prescritos com muito cuidado e critério médico-geriátrico. O recurso do uso de drogas é reservado e só deve ser indicado quando todas as medidas não farmacológicas fracassarem. Os medicamentos tranquilizantes, especialmente os benzodiazepínicos, podem ter efeito negativo, pois comprometem o equilíbrio e consequentemente aumentam o risco de quedas. Além disso, essas drogas podem promover outros tipos de estados de agitação e aumentar em mais de 6 vezes o risco de quedas. Nesses casos, a avaliação médica é imprescindível.


Apesar de não ser uma alteração comportamental comum, o comportamento sexual inadequado pode existir e, por questões socioculturais, representa grande preocupação e angústia. De maneira geral, essas manifestações felizmente são esporádicas e raras. Os distúrbios mais comuns na conduta sexual são: a masturbação, a exposição de genitais e o ato de despir-se em público.
A grande advertência a ser feita, diante de um comportamento sexual inadequado, é verificar se esse comportamento não está ligado a alguma necessidade natural e não sexual. O paciente demenciado se comporta inocentemente, sem malícia, e, por ter perdido o senso de crítica, vergonha e pudor, pode estar se comportando inadequadamente com o propósito de apenas provocar o próprio bem-estar.
Uma mulher pode tirar a blusa em público porque essa roupa está apertada ou porque ela está com muito calor. Um homem pode manipular seus genitais para aliviar-se de uma coceira ou irritação naquela região, ou pode abaixar as calças porque quer ir ao banheiro. Esses exemplos demonstram que a primeira coisa a ser feita é tentar associar o comportamento a algum fato correspondente. A atitude a assumir é encarar esses distúrbios com naturalidade e racionalidade. O enfrentamento do episódio com tranquilidade, distraindo o paciente com algum objeto ou antecipando a hora do banho, pode ser extremamente eficaz.
Uma outra advertência diz respeito a episódios em que estão envolvidas crianças. Ao presenciar-se um paciente apresentar conduta sexual inadequada diante de uma criança, deve-se ter muito controle sobre a nossa reação, pois, se for por demais ríspida e intolerante, o cuidador poderá estar assustando e prejudicando a criança que, sem compreender bem o que está acontecendo, dificilmente esquecerá o episódio, o que certamente resultará em evidentes prejuízos para o desenvolvimento da personalidade dela.
Outro aspecto diz respeito às condutas sexuais que se repetem. Ás vezes, por reflexo condicionado, alguns pacientes levam a mão aos genitais frequentemente, e tentar distraí-lo é a primeira providência a ser adotada.
Certos familiares costumam simplesmente dizer rispidamente “Não faça isso!” e relatam que depois de algum tempo esse episódio desaparece.
Deve-se considerar que a necessidade de contato físico pode estar desencadeando essas manifestações, e, portanto, se o cuidador aumenta o contato físico com afagos e carinhos, minimizaremos essa necessidade diminuindo a ocorrência desses distúrbios comportamentais. Algumas vezes, a frequência dessas alterações é tão grande que determina a impossibilidade de convívio.
Várias abordagens para o enfrentamento de comportamentos sexuais exacerbados têm sido propostas.
O método de punição e recompensa em que, à medida que o paciente se comporta inadequadamente é punido com a retirada de algo que goste e, em contrapartida, é recompensado quando se comporta bem, tem sido utilizado. Apesar de haver restrições quanto ao mérito desse método, em virtude de podermos criar um relacionamento condicionado e por vezes imutável, alguns autores e cuidadores o preconizam. Quando essas medidas fracassam, o uso de medicamentos é indicado.


Nos estágios avançados, o paciente pode desenvolver o hábito de repetição de gestos ou palavras. A causa desse distúrbio não está estabelecida e, de maneira geral, trata-se de uma manifestação inofensiva, sem riscos, a não ser um alto sentimento de irritabilidade para o cuidador. Normalmente é uma alteração de difícil abordagem em que a tentativa de entretê-lo em alguma atividade alternativa pode ser eficaz. Felizmente, esse distúrbio costuma acometer os pacientes apenas tardiamente.
O melhor método continua sendo o de equacionar o porquê da conduta inadequada.
A demonstração de que tudo vai bem, que ele continua sendo amado e protegido, seguido por um contato físico carinhoso, continua sendo uma grande arma de eficácia surpreendente.
Quando o paciente repete uma pergunta, isso pode significar que ele esqueceu que acabou de fazê-la.
Certas perguntas devem ser respondidas de maneira a fornecer aos pacientes alguma orientação. A pergunta “Que horas são?” repetida compulsivamente não deve ser respondida com “Eu já disse!”, “É uma hora da manhã”, mas com “É hora de almoçar”, “É hora de tomar banho”, “É hora do remédio” e assim por diante.
Deve-se ter em mente que, se o paciente está perguntando algo, é porque tem algum interesse no assunto e o cuidador deve responder-lhe de modo adequado.
Se ele perguntar “Onde está minha mãe?”, mesmo que já tenha falecido, o cuidador deve interromper o que está fazendo e falar um pouco sobre a pessoa. Isso deverá melhorar a inquietação do paciente.


O paciente segue o cuidador por toda parte. Essa alteração é extremamente angustiante para o cuidador e propicia um relacionamento tenso e hostil. Para o paciente, o cuidador é, na verdade, o seu complemento, a sua única ligação com um mundo, no qual ele não pode de viver sem ajuda. É compreensível que ele não queira deixar o seu passaporte para o mundo real ficar fora de sua vista e de seu alcance. O cuidador passa a ser parte dele, seu bem-estar, sua segurança, a manutenção nas atividades elementares, a própria sobrevivência.
Tente proporcionar uma atividade de modo que ele saiba que você está por perto.
A ocupação em alguma atividade produtiva em que o paciente possa ajudar o cuidador (e isso precisa ser declarado ao paciente) pode ser eficaz, pois a pessoa com DA se sentirá útil, feliz e mais calma.
Existe uma certa resistência em dar alguma atividade ao paciente. Alguns cuidadores sentem remorso por fazerem que pessoas doentes trabalhem, mas essa ideia é totalmente inadequada e desprovida de bom senso. A ideia de utilidade encontra-se inexoravelmente agregada ao espírito do ser humano. Sentindo-se útil, muitas inquietações são minimizadas.
Pedir a algum membro da família que cuide do paciente durante um determinado período de tempo permite que o cuidador possa desfrutar alguns momentos de tranquilidade.

Essa medida também colabora no sentindo de mais alguém presenciar o fato e poderem trocar suas impressões.





Desaparecimento de objetos

E comum que o paciente esconda ou perca objetos ou ainda que esqueça onde os colocou.
Face aos transtornos que causam quando perdidos, como as chaves do carro, chaves em geral, jóias e documentos importantes, devemos prevenir esses acidentes guardando os objetos em local protegido, fora do alcance do paciente.
A prevenção destes acidentes e a melhor medida a adotar.
E conveniente que se compreenda que o paciente não faz isso para irritar o cuidador, pois ele não sabe o que, e nem porque esta fazendo.
O ato de esconder objetos que lhe pertence traduz o sentimento de insegurança que se desenvolve no paciente.
A posse desses objetos lhes da segurança em termos de sobrevivência física.
Os pacientes demenciados perderam muitas coisas que eram apenas deles: a memória, o raciocínio, a intelectualidade, a orientação no tempo-espaço, a coordenação motora e sua vida social.
Um pequeno objeto, um lenço, por exemplo, talvez seja a única coisa que possua, que pertence só a ele e, dessa forma, a valoriza muito, protegendo esse bem a qualquer custo.
Devemos compreender esses fatos sob a luz do raciocínio claro.
Para o doente, um grampo de cabelo tem o mesmo valor que para nós tem um solitário de diamante.
Os pacientes escondem objetos nos locais mais inusitados, mas alguns são preferidos.
Os locais que devem ser checados são: embaixo de colchões, dentro de sapatos, gavetas, guarda-roupas, especialmente nas partes superiores, locais onde costumava guardar seus objetos de valor e latas de lixo.
Cuidado. Nunca coloque o lixo fora, para ser retirado sem ter sido revistado.




Alguns pacientes canalizam suas energias contra si mesmos: batem a cabeça na parede várias vezes, mordem os lábios, comem suas unhas e sugam os dedos com sofreguidão até causar ferimentos, coçam-se com violência, puxam os cabelos e os arrancam etc. Aparentemente esses comportamentos são de autodestruição, mas geralmente são manifestações de estresse e angústia.
As medidas a serem adotadas devem atender a dois objetivos fundamentais: a redução do estresse e a ocupação do tempo ocioso do paciente em alguma atividade.
A ocupação ainda é a grande aliada na abordagem desses distúrbios. Mantê-los com as mãos ocupadas em alguma atividade, como desenhar ou dobrar roupas ou papéis, apresenta resultados satisfatórios. Os exercícios físicos e passeios também são alternativas positivas para que gastem energia.
Evidentemente, pessoas que se automutilam devem ser supervisionadas constantemente e a prevenção de acidentes pode ser feita retirando de seu alcance objetos cortantes ou pontiagudos. Para lidar com essas ocorrências, recomendam-se alguns procedimentos: cobrir as lesões com curativos, usar roupas que de alguma maneira dificultem o acesso a áreas preferidas para mutilação, usar luvas e manter as unhas bem aparadas.
Como em outros tipos de alterações de comportamento, a abordagem calma e carinhosa e outras medidas que diminuam o estresse e a angústia devem ser generosamente utilizadas.


Acusações feitas pelo paciente de roubo de objetos ou de dinheiro ou de maus-tratos são comuns. A avaliação desse comportamento deve ser feita considerando determinados aspectos.
Especialmente na fase inicial, o paciente entende que está sofrendo perdas e que de alguma maneira suas habilidades estão declinando. Podemos imaginar o sentimento de angústia e medo do futuro associado com extrema desorientação, que resultam numa grande confusão dentro do mundo desse indivíduo. Esses fatos podem determinar que o paciente tente negar a princípio essas dificuldades e, portanto, lance mão de artifícios acusatórios. Ao acusar alguém de ter roubado o seu relógio ou os seus óculos, quando na verdade os esqueceu em algum lugar, manifesta uma atitude de defesa e utiliza o acusado como bode expiatório.
A noção de crítica e de autoestima prejudicados, a total perda de censura e a quebra com os laços sociais tradicionais favorecem esse comportamento.
Essas acusações trazem consigo grande tristeza e problemas para quem está diretamente envolvido no cotidiano do paciente, especialmente quando atingem pessoas contratadas, como acompanhantes ou pessoal de enfermagem.
Pode ocorrer que o paciente esconda ou esqueça onde colocou algum objeto. Se o paciente acusa o seu cuidador ou outra pessoa contratada, frequentemente há um estremecimento nas relações mantidas com os familiares e a instalação de um ambiente pesado e cheio de suspeitas. A dúvida sobre o que realmente está acontecendo é desgastante e coloca em risco o equilíbrio ambiental.
A isso tudo deve-se acrescentar que os familiares, muitas vezes, continuam não sabendo até que ponto o paciente está doente e, portanto, até que ponto devem acreditar no que diz, pois, em muitos momentos, ele se apresenta fisicamente normal e com períodos de lucidez.
A primeira regra é não se defender das acusações. Não se deve discutir, pois a lógica convencional não será entendida pelo paciente. Quando o cuidador se coloca frontalmente contra a acusação feita, acaba por promover uma situação de confronto em que uma das partes não terá condições de entender os seus argumentos, porém entenderá muito bem que o acusado  está nervoso, irritado e com raiva dele, e que, portanto, são adversários. Em vez do enfrentamento puro e simples, devemos buscar soluções criativas. Se, por exemplo, o paciente acusa o cuidador com frequência de ter roubado os óculos, este deve ter em mãos um par de reserva até que o original seja encontrado. É fundamental encorajar o paciente a falar sobre o ocorrido. Não é necessário concordar ou discordar, o cuidador deve apenas ouvir. Talvez com uma breve explicação baseada na precariedade dos argumentos apresentados, o episódio possa ser atenuado.
O cuidador deve exercer o papel de confidente. Quando o paciente acusa outras pessoas, esse papel de confidente é muito positivo, pois, além de ele estreitar seus laços de confiança com o cuidador, o paciente terá noção de que não está só ou isolado em suas angústias. É importante que o cuidador diga ao paciente que entende o que está passando e que é solidário à inquietação dele.
Pessoas com esses distúrbios de comportamento detestam surpresas, portanto, sempre que algo fora da rotina for ocorrer, o paciente deve ser avisado com antecedência.
Um sentimento de grande insegurança no manejo de sua vida pode levar o paciente ao pânico, especialmente quando ocorrem fatos diferentes daqueles que está habituado.
Quando o paciente acusa diretamente o cuidador, às vezes uma simples mudança de assunto ou a distração com alguma outra coisa desvia sua atenção, e ele logo se esquecerá da acusação.
Não confrontar é a palavra de ordem.
As pessoas que terão contato com o doente devem ser avisadas dessa característica, para que possam estar preparadas para eventuais acusações e saber como agir.
Por fim, alguns medicamentos, apesar de seus efeitos colaterais, atuam bem no controle dessas alterações.

Reações catastróficas
As reações catastróficas ou explosões de raiva e violência sem motivo aparente contra algo ou alguém e de instalação súbita são características dos pacientes com a doença de Alzheimer. Acidentes insignificantes, como dificuldades em abotoar uma camisa ou quando percebem que esqueceram o zíper aberto, são ocorrências suficientes para deflagrar uma catástrofe: eles passam a gritar e até a se esbofetear violentamente. Ao serem pressionados, também podem apresentar reações violentas. Se lhes fazem uma pergunta para a qual não tenham resposta, respondem agressivamente, choram e, em alguns casos, recorrem à violência física.
Várias podem ser as causas dessas alterações súbitas de humor: mudança na rotina, aglomerações, ruídos e dificuldade no cumprimento de tarefas que não podem realizar levam os pacientes a reagirem com agressões verbais, socos e pontapés.
Nos homens fisicamente fortes, esses fatos são especialmente preocupantes. Não é raro que homens sadios do ponto de vista físico e relativamente jovens sejam mais agressivos que os seriamente debilitados por razões relativamente racionais. Sabem que ainda mantêm algum vigor físico e o usam para atingir os fins que entendem ser os mais adequados.
Na ocorrência de uma reação catastrófica com esses pacientes, o enfrentamento pode ser perigoso e é aconselhável evitar o confronto, sair do raio de alcance e buscar ajuda. Na impossibilidade de se colocar fora do alcance da violência física, a utilização de escudos improvisados como travesseiros, cadeiras ou qualquer outro objeto é melhor que o enfrentamento sem proteção. Durante uma agressão, a única medida a ser adotada diz respeito à própria proteção.
As palavras não costumam ajudar, gritar por socorro ou mandar parar só aumenta a ira do paciente.
Com o escudo improvisado, como um travesseiro, deve-se tentar manter o paciente em um canto do ambiente até que se acalme.
As reações catastróficas atingem seu clímax de forma inesperada, porém as agressões costumam, felizmente, cessar em poucos minutos. O cuidador não deve demonstrar medo ou ansiedade, é importante, na medida do possível, manter a calma.
Pacientes com DA costumam imitar comportamentos. Se o cuidador aparentar calma, o paciente provavelmente agirá calmamente; se o cuidador falar pausadamente, em voz baixa e com timbre agradável, o paciente tende a imitá-lo.
Após o ocorrido,deve-se recolocar os objetos em seus lugares de origem e manter o ambiente o mais tranquilo possível dizendo ao paciente que nada mudou, que continuará ao lado dele, que não sairá nem o deixará só, que ele não deve se preocupar, que tudo está bem agora... Mesmo que ele não compreenda exatamente o significado disso tudo, intuirá que o cuidador está bem e que são amigos.
Um passeio ou um pequeno lanche juntos complementa e finaliza bem o episódio. É importante analisar as razões das reações desse tipo. Normalmente descobre-se o motivo que as desencadeou.
Pacientes demenciados não conseguem pensar em várias coisas ao mesmo tempo. Ordens complexas, com muitas informações e opções, como “pegue as meias pretas na gaveta, mas, se não as encontrar na gaveta, pode colocar as marrons de lã, aquelas que eu lhe dei em seu aniversário”, podem confundir o paciente e irritá-lo por sentir-se incapaz de coordenar todos esses pensamentos, e ele poderá reagir com fúria.
Outro fator refere-se à pressão psicológica a que são submetidos em entrevistas durante as aplicações de testes cognitivos. É necessária uma boa dose de bom senso na condução desses procedimentos para prevenir essas alterações.
Lembre-se da lentidão de raciocínio que apresentam, portanto, após uma ordem ou solicitação simples, é necessário que seja dado aos pacientes o tempo adequado para que entendam a ordem e possam processá-la. O paciente demenciado nunca deve ser apressado ou pressionado.
Essas reações não são frequentes, mas fazem parte do curso natural da doença. São especialmente mais comuns na fase inicial, mas não se perpetuam como comportamento básico, tendo a duração de alguns meses apenas.
Quando manifestações desse tipo se instalam, regridem rapidamente, durando apenas alguns minutos, tempo suficiente para que o paciente gaste sua energia e se acalme.
As situações que geralmente desencadeiam essas reações ocorrem, em geral, quando o paciente não consegue entender o que lhe está sendo dito, encontra dificuldade para vestir-se, não consegue abrir alguma coisa ou fazer funcionar algum aparelho. Podem ocorrer também caso haja ruídos desagradáveis, ambientes e pessoas estranhas, quebras de rotina, o descobrimento da incontinência, ambientes tensos ou se paciente presencia pessoas brigando ou discutindo asperamente.
Um bom exemplo que ilustra com simplicidade a possibilidade de contornar e prevenir essas situações é a de um senhor que todas as manhãs reagia com ira ao fato de não conseguir dar o laço em seus sapatos. Verificada a causa, a simples mudança para sapatos do tipo mocassim resolveu totalmente o problema.
O cuidador, mais uma vez, deve associar sua sabedoria e paciência às funções de psicólogo e detetive. Agir como um verdadeiro detetive significa suspeitar de tudo, das roupas que podem machucar, do barulho ritmado do relógio, do tempero da comida. A melhor estratégia é escolher duas possibilidades de cada vez e investigá-las. Parar o relógio, trocar os travesseiros, mudar aquele quadro de lugar etc. e verificar o modo como ele reage.
Um registro que demonstre alguma relação com o período em que as reações costumam ocorrer é de grande valor. O paciente pode ter essas reações às 11 horas da manhã porque tem fome e seu almoço normalmente é servido ao meio-dia; esta, entre tantas outras possibilidades, deve ser investigada.
Particularmente para pacientes que ainda mantém alguma independência, se colocarmos todas as suas roupas em cima da cama para que se vistam sozinhos, poderemos estar fazendo com que tenham que optar pelas peças e isso pode ser muito difícil para eles.
E melhor que lhe entreguemos uma a uma.
A simplificação das ações, passo a passo, é indispensável na prevenção desse distúrbio.
O que para nós é um ato fácil e até automático, para o paciente pode ser uma tarefa hercúlea.
Durante as reações catastróficas, existem algumas providências que podem anular ou impedir que esses distúrbios progridam:

distrair o paciente, colocando inesperadamente em suas mãos qualquer objeto não contundente;
ligar a televisão;
convidá-lo para um passeio ou para fazer algo de que goste;
falar com carinho e aproximar-se amistosamente;
manter uma posição de vulnerabilidade, com os braços ao lado do corpo e semblante carinhoso;
ignorar sua reação;
alguns cuidadores cantam músicas conhecidas e relatam que o paciente, em geral, canta com eles;
restringir apenas em último caso, quando houver real perigo;
procurar ajuda médica para atendimento em domicílio; as ambulâncias costumam ter equipamentos para restringir pacientes violentos.


Certos casos são de difícil manejo e muitas vezes comprometem seriamente o convívio, determinando a última e triste alternativa: a institucionalização definitiva.


O delírio é uma alteração mental em que uma ideia fixa totalmente desprovida de realidade é vivida. Alguns pacientes vivenciam tão intensamente algumas situações, que eles chegam a acreditar que de fato aquilo está ocorrendo em sua vida.
Os delírios têm uma característica muito bem marcada nos pacientes demenciados. De nada adianta tentar demonstrar ao paciente que o cuidador e ele não estão viajando em um trem e sim almoçando juntos na cozinha. Para ele, essa sensação é muito real e impossível de ser questionada. Nunca devemos concordar com aquilo que o paciente supõe estar vivendo para não reforçar o estado de delírio. Normalmente, o cuidador participa e está incorporado ao delírio de uma forma negativa, uma pessoa má.
Não se deve negar e muito menos concordar com o paciente, mas deve-se tentar distraí-lo com argumentos e objetos reais, trazendo-o de volta à realidade: falar coisas concretas e reais, pedir conselhos sobre o que vão fazer para o jantar e ideias semelhantes. Se o paciente o questionar sobre se o governador ou o presidente da República telefonaram novamente, não negue a possibilidade. Diga simplesmente: “Não que eu saiba”.
Alguns delírios são inofensivos e, portanto, não há nada a se fazer, porém, se ocorrem subitamente, deve-se investigar se há uma causa subjacente.
Pacientes que se dizem grávidas não são casos raros de delírios. Elas podem necessitar de maior contato com crianças, em virtude de alguma carência nesse campo de necessidades, na troca de afeto da relação mãe-criança.
Pacientes restritos a cadeiras de rodas podem se imaginar dirigindo carros de corrida para atenuar a semimobilidade a que estão submetidos.


As alucinações são formas de alteração mental normalmente associadas aos objetos da casa, às cores das paredes, aos lustres, aos livros que se transformam ou abrigam animais repugnantes. Ratos, cobras, aranhas, caranguejos e baratas são os animais que costumam estar presentes nas alucinações. É impressionante ver uma pessoa nos mostrando ratos e insetos imaginários nas paredes, nos cobertores e no seu próprio corpo.
A primeira providência do cuidador é dizer ao paciente que está lá para ajudar e entende o quão ruim é ter esse tipo de visão. Deve-se dizer também que tudo isso que o paciente está vendo não irá lhe fazer mal, pois ele está sendo protegido por você. Normalmente, as alucinações respondem bem ao tratamento medicamentoso. As medidas não medicamentosas são de pouca utilidade. Normalmente, a intervenção médica é obrigatória.


Ilusões são eventos em que determinados objetos, sombras ou sons imitam formas ou ruídos que amedrontam o paciente. Uma cortina ao vento projetando uma sombra em forma de cobra ou um monstro pré-histórico são duas entre as infinitas possibilidades.
Normalmente, as ilusões são facilmente detectadas e removidas.


Na vigência de determinados comportamentos, os cuidadores exasperam-se, irritam-se profundamente e deprimem-se. A primeira coisa em que pensam é abandonar tudo e sumir ou até em agredir o paciente.
O cuidador é um ser humano com seus sentimentos e suas necessidades e é normal que se sinta dessa forma. Os conselhos e as orientações são fáceis de dar, porém difíceis de se executar. Todavia, o que se deve fazer é cruzar os dedos, contar até dez, respirar e voltar ao trabalho.
Algumas considerações auxiliam o cuidador na abordagem geral dos problemas a enfrentar:

não se deve ter receio ou remorso na preservação da ordem e da disciplina;
a palavra “não” e a expressão “não faça isso” devem ser usadas sempre que necessário;
Fazer-se de mártir não ajuda nem ao cuidador, nem ao paciente. Tirar alguns minutos de descanso para conversar com amigos, ginástica, ver TV, ouvir musica ou simplesmente descansar são atitudes muito mais produtivas;
a inversão de papéis, em que a filha passa a ser a pessoa que determina o que pai deve fazer ou comer, é uma situação que pode parecer antinatural, mas não deve ser vista dessa forma.O trabalho executado pelo cuidador é extremamente nobre e importante e isso deve sempre permear as considerações e os pensamentos deste;
se o cuidador erra e num momento de raiva acaba por ser mais ríspido que o necessário, não deve culpar-se, deve absolver-se e continuar o seu nobre trabalho, sua missão.

Creditos: AlzheimerMed

Cuidados Especiais




Banho
O banho, aparentemente uma atividade comum e de fácil realização, pode representar no cotidiano do paciente e do cuidador um momento complexo, perigoso e estressante. Já na fase inicial pode existir uma resistência ao ato de banhar-se ou ser banhado. Essa resistência baseia-se fundamentalmente em alguns aspectos especiais:

perda ou diminuição da autoestima, sobretudo nos pacientes que se encontram em estados depressivos;
quebra da rotina;
traumas psicológicos decorrentes de má condução dessa atividade no passado (queimadura, frio, queda, brutalidade);
desorientação com relação a tempo e espaço;
perda de memória.


Os pacientes depressivos devem ser amistosamente incentivados. Os hábitos e costumes de cada indivíduo devem ser valorizados. A atividade deve ser planejada com cuidado e atenção. Algumas questões são absolutamente críticas e, via de regra, não são levadas em consideração, como o sentimento de perda da individualidade e a falta de privacidade. Quando um indivíduo apresenta certo grau de deterioração mental, com consequente perda de suas habilidades, é comum que seja invadido em sua privacidade e cerceado em sua autonomia. Exemplificando, certos pacientes pertencem a gerações de conduta moral tão rígida e costumes tão recatados que nunca se apresentaram nus ou seminus diante de outras pessoas, até mesmo perante seus cônjuges. Pode-se entender o desconforto e o pânico de um senhor, que sempre manteve hábitos extremamente conservadores em relação ao seu pudor, ao ser banhado por pessoas estranhas.

Outra causa de resistência diz respeito a fatos passados de triste lembrança como; quedas acidentais, queimaduras por água quente, frio por água fria, ardência nos olhos pelo sabonete, atitudes ríspidas por palavras ou por manuseio brusco e inadequado, que muitas vezes causam escoriações e/ou hematomas.

Essas ocorrências transformam-se em receios, despertando no paciente o desejo de não repeti-los.
A identificação precisa da causa da resistência oferecida é difícil de ser estabelecida, pois o doente não tem condições de se explicar com clareza.
Muitas vezes, especialmente cuidadores contratados se constrangem com o próprio erro e não relatam o acidente não intencional por medo de reprimendas.
A perda de memória e a desorientação também podem levar o paciente a crer que acabou de banhar-se ou que se banhou há pouco tempo, resistindo assim a uma atividade considerada por ele desnecessária.
O registro em um cartaz ou em uma lousa, que contenha o dia e a hora do último banho, poderá auxiliar o cuidador se o paciente interpelá-lo com uma frase do tipo “Acabei de tomar banho!”.
Outro fato relevante é que alguns indivíduos não cultivaram a rotina do banho diário, e, assim, a imposição dessa atividade poderá representar uma alteração nos hábitos que sempre cultivou. Isso ocorre com frequência em pacientes de outras nacionalidades, já que em alguns países fatores relacionados ao clima e à cultura promovem hábitos diferentes quanto à frequência do banho.
Há também os pacientes que desfrutam o banho com grande prazer, um recurso que pode ser utilizado pelo cuidador quando o paciente apresentar um quadro de agitação.
Essas considerações são importantes, pois esclarecem que não há padrões preestabelecidos para essa atividade.
O banho pode representar uma atividade extremamente complicada e estressante se malconduzida, ou confortante e até, de certa maneira, terapêutica se bem orientada.
Uma outra palavra de ordem para essa e outras atividades é: rotina.
A quebra de rotina deve ser evitada, pois os pacientes não apreciam fatos desconhecidos, inesperados ou mudanças súbitas em seu dia a dia. A manutenção de uma rotina rígida no cotidiano confere ao paciente uma sensação de segurança, o que deve ser observado com rigor. Deve haver um horário predeterminado para o banho, que possa ser identificado pelo paciente por meio do ritual dos preparativos, que deve transcorrer sempre da mesma maneira. Se não houver um horário preestabelecido para o banho e se não existirem fatos e atitudes que precedam essa atividade, o paciente pode tornar-se resistente não quanto à atividade em si, mas contra toda e qualquer atividade não prevista ou anunciada com antecedência pelos rituais de preparação.
É fundamental destacar que a convivência com o paciente acaba por gerar um novo tipo de comunicação, que às vezes não se baseia apenas em palavras, mas também em movimentos e atitudes.


Para a maioria das pessoas adultas, o ato de banhar-se não costuma apresentar grandes dificuldades. Determinadas ações já estão tão incorporadas às atividades diárias que são realizadas automaticamente. Porém, quando se analisam os movimentos e as decisões tomadas durante um banho normal, constatar-se-á que se trata de uma atividade relativamente complexa.
Podemos chamar de filosofia a atitude que devemos adotar na preservação da autonomia do paciente. É fundamental que o cuidador se coloque na condição de um auxiliar que ajuda, colabora e assiste, mas que também permite e incentiva a realização do máximo de tarefas pelo próprio paciente, respeitando as limitações individuais. O cuidador nunca deve assumir uma posição de controle integral, dando o banho e tomando as iniciativas que ainda podem ser realizadas a contento pelo próprio indivíduo. É compreensível e natural que se adote uma postura de controle integral, pois é muito mais fácil e prático realizar a tarefa do que assumir a atitude passiva de um auxiliar. É importante que isso não ocorra, pois atitudes desse tipo terminam por embotar a participação e cerceiam as iniciativas do indivíduo, levando rapidamente ao aumento de sua dependência, o que nunca deve ser a meta do cuidador.
O verdadeiro cuidador orienta suas ações com o propósito de preservar e maximizar as habilidades remanescentes de seu paciente.
Nunca fazer por ele o que ele ainda pode fazer sozinho.


Os preparativos são essenciais e indispensáveis, e devem obedecer a um verdadeiro ritual. A falta de um preparativo adequado pode levar a uma situação tensa e perigosa. Por exemplo, se os objetos necessários não estão à mão, corre-se o risco de ter que deixar o paciente sozinho, confuso, molhado, com frio, nu, em um ambiente perigoso, molhado e escorregadio, para voltar ao quarto e pegar a toalha esquecida.
Quando se está preparando o banho, todas as ações devem ser explicadas em voz alta, uma a uma: “Estou pegando uma toalha para secar”, “Estou acertando a temperatura da água” etc.
O banho de chuveiro com água em abundância e em temperatura adequada são requisitos indispensáveis. A temperatura é importante, os banhos quentes são agradáveis e de efeito relaxante. O banho de leito deve ser reservado a situações específicas.
A partir desses preparativos, deve-se conduzir o paciente ao banheiro e, dependendo do grau de autonomia dele, solicitar-lhe que vá se despindo. Os comandos devem ser simples, um a um, como: “Agora vamos tirar as roupas”, “Tire os sapatos”, “Tire a camisa”, “Agora tire as meias” etc. Essas frases devem ser acompanhadas por outras de teor encorajador, do tipo: “Eu sei que você gosta de estar limpo e bem apresentado”, “Fico contente de ver que gosta do banho que eu estou preparando para você”, e assim por diante.
Nunca é demais frisar que, tanto nos preparativos quanto no banho em si, o paciente só deve ser auxiliado por incapacidade inequívoca para aquela ação determinada.
Despido, o paciente é solicitado a molhar-se, ensaboar-se e remover o sabão remanescente. O cuidador entrega-lhe a toalha e supervisiona-o para que se enxugue bem, especialmente entre os dedos dos pés e nas dobras. Depois de devidamente seco, ofereça-lhe as roupas, peça por peça, auxiliando-o somente nas limitações conhecidas ou evidenciadas. Certos pacientes preferem banho de banheira, pois se amedrontam com o chuveiro, e isso deve ser levado em conta. Esse tipo de banho, se bem que não seja comum no nosso meio, pode ser muito repousante e seguro. Se essa opção é adotada, nunca se deve encher a banheira com mais do que um terço de sua capacidade, e a temperatura deve ser supervisionada com cuidado. Para ser colocado na banheira, o paciente deve ser abraçado por trás, na altura da cintura, propiciando assim o seu deslizamento em perfeita segurança, com total controle do cuidador, até que se estabeleça uma posição equilibrada e confortável. Especialmente nesse tipo de banho, o paciente não deve ser deixado só, nem por um instante.
Certos pacientes se comportam melhor quando o cuidador oferece uma recompensa após o banho. Entreter o paciente na banheira com brinquedos infantis, a utilização de mamadeiras para a alimentação e o sistema de recompensas têm defensores, porém há os que argumentam que a infantilização pode ser contraproducente.
Há cuidadores que defendem o sistema de recompensa por bom comportamento no desenrolar do banho: este é o momento de, em tranquilidade, os pacientes serem recompensados.
O bom senso somado a um bom aconselhamento técnico geralmente estabelece, com boa margem de segurança, o acerto ou o erro de medidas e artifícios não usuais.
Um cuidador experiente afirmou certa vez: “Polêmicas à parte, o que importa é se o método funciona ou não”.
Não existem respostas certas e definitivas para determinadas atitudes. Cada caso responde de uma maneira. Cada família é um universo.
Durante o banho, a massagem é uma prática revigorante e estreita os laços entre o paciente e o cuidador. A presença de vapor de água no banheiro também é um grande aliado. A inalação desses vapores é be-néfica, prevenindo doenças do aparelho respiratório e auxiliando no tratamento destas.
Existem pacientes cujo pudor, como já descrevemos, é tão pronunciado que determinados cuidadores permitem que sejam banhados com suas roupas íntimas que, no decorrer da atividade, vão sendo retiradas com calma e habilidade. O pudor do cuidador em determinados casos, especialmente quando a filha banha o pai ou o filho banha a mãe, pode tornar o banho uma tarefa altamente comprometida em sua qualidade. Nesses casos, é de bom senso que se peça a ajuda de alguém para garantir uma higiene completa, especialmente das áreas genitais e adjacentes.
O chuveiro manual é um recurso que facilita o banho, e o paciente deve estar sentado para ter maior segurança. Por ser fácil de usar, faz com que certos pacientes desfrutem imensamente desse recurso, pois podem manuseá-lo, dirigindo o jato para onde quiserem. Como chão molhado favorece escorregões, o cuidador deve certificar-se de que esteja calçado adequadamente e providenciar para que os tapetes de borracha sejam colocados nas áreas críticas. Nunca é demais repetir que esse momento, reservadas as precauções necessárias, pode ser extremamente agradável não apenas ao paciente, mas também para quem cuida dele.
O banho também é um ótimo momento para fazer uma revisão sistematizada na pele, nas unhas e nos cabelos, à procura de alguma lesão ou doenças de pele, assaduras, úlceras incipientes e a constatação de hematomas por traumas não observados.
As unhas devem ser aparadas semanalmente. Os cuidados com a boca, com a limpeza das próteses ou a escovação dos dentes devem ser realizados diariamente, e um bom artifício é o cuidador escovar os seus próprios dentes e pedir ao paciente que o imite. O uso de fio dental, se aplicável, complementa a higiene bucal e não deve ser negligenciado. O uso de colutórios pode ser perigoso por ingestão inadvertida.
Os cabelos devem ser lavados regularmente e checados com relação à presença de parasitas.
Determinados pacientes podem ter os cabelos aparados pelo próprio cuidador, e, se necessitarem de maiores cuidados, devem ser tratados por profissional específico.
O uso de maquiagem é positivo para as mulheres e deve obedecer ao bom senso.
A atitude a se tomar com relação às resistências e negativas é a de se manter uma postura firme, evitando a confrontação e a discussão, mas conduzindo com determinação a execução total da tarefa.
É importante que a atividade logo após o banho e o vestir seja agradável e confortante.


O uso e a escolha das roupas devem obedecer algumas regras. As opções devem ser limitadas a poucas peças. As peças devem ser dispostas na ordem que serão vestidas, observando-se uma coordenação em termos de cores que favoreçam amplas combinações, a fim de evitar as combinações bizarras.
O guarda-roupa do paciente deve conter apenas o necessário. Gravatas, cintos e acessórios devem ser retirados, bem como roupas difíceis de vestir. Deve ser feita uma seleção nas roupas, verificando-se a real utilidade de cada peça conforme a estação, para priorizar a praticidade. Todas as peças que tenham pouca possibilidade de utilização devem ser retiradas do guarda-roupa, dando-se preferência às roupas amplas, confortáveis, práticas e discretas. É importante também organizar os modelos.
Roupas com elástico ou velcro® são mais fáceis de vestir do que aquelas com botões, as quais devem ser evitadas. As cores principais, que servem de base a uma boa variação e boas combinações, são o azul, o verde e o marrom, com suas variadas tonalidades. As preferências dos pacientes anteriores à doença de cores devem ser levadas em conta e colaboram na decisão dos cuidadores quanto a esse quesito.
A boa apresentação do paciente contribui para melhorar a autoestima e traduz a qualidade dos cuidados que lhe estão sendo ministrados.
Os pacientes com doença de Alzheimer costumam apresentar variações de peso, emagrecendo e eventualmente ganhando peso. Por isso, é interessante que as roupas permitam essas adaptações.
A presença de um bolso apenas, não muito profundo, evita que o paciente se irrite quando busca algum objeto. Certos pacientes entretêm-se manipulando linhas e costuras de suas vestes que devem primar pela simplicidade e pelo conforto, não devendo ser apertadas e sim amplas, confortáveis e, de preferência, sem costuras aparentes. Os pijamas, especialmente para as mulheres, são mais complicados de vestir do que as camisolas, que são vestidas pela cabeça em um só movimento. Para os homens, deve-se dar preferência às camisas do tipo pólo e blusas de lã com gola em “V”.
Os calçados com cadarço são pouco práticos; deve-se dar referência aos mocassins sem fivelas, franjas etc.
Como certos pacientes ainda mantêm algum discernimento, podem fazer escolhas a respeito do que vestir. Muitas vezes, elegem algumas peças como suas favoritas e insistem em usá-las todos os dias. Na impossibilidade de aceitarem outras roupas que não as preferidas, réplicas e duplicatas dos modelos teimosamente requisitados resolvem o impasse. Uma boa estratégia utilizada por alguns cuidadores é a de preparar alguns conjuntos de roupas, preestabelecendo o uso de determinadas combinações, deixando o paciente optar por um conjunto e não por peças isoladas. É comum que digam que as roupas que não os atraem, não lhes pertencem. Assim, o uso de etiquetas ou de alguma outra forma de identificação funciona como argumento para que os pacientes as aceitem com mais facilidade.
O ato de vestir pode provocar instabilidade no equilíbrio e favorecer as quedas. Alguns cuidadores costumam sentar-se para supervisionar esse ato com o paciente sentado. Se o paciente se veste em pé, o cuidador deve também estar em pé, ao lado, e em rigoroso estado de alerta para, diante de alguma instabilidade, socorrê-lo imediatamente.
O local onde o paciente está se vestindo também deve respeitar algumas regras. Correntes de ar, móveis com cantos vivos e pisos escorregadios devem ser evitados. O paciente deve vestir-se sempre no mesmo local.
A manutenção de uma rotina cria hábitos que, conferindo maior familiaridade com o ambiente, fazem-no sentir-se mais seguro. As peças devem ser arrumadas no guarda-roupa de modo compartimentado. As gavetas devem conter apenas um tipo de peça: meias em uma, camisas em outra etc. Esse tipo de organização deve ser obstinadamente observada, pois assegura ao paciente que, quando abrir uma determinada gaveta, encontrará sempre o mesmo tipo de roupa.
Identificar as gavetas e as portas dos armários auxilia na orientação do paciente, refletindo positivamente para a manutenção de sua autonomia.
Deve-se observar a diferença entre vestir e ajudar a vestir. Essa postura vem ao encontro do objetivo maior quanto aos cuidados a serem dispensados ao paciente que consiste em manter o máximo possível as habilidades remanescentes.


A higiene oral é essencial para a saúde e o conforto do paciente. Os dentes devem ser escovados e as próteses devidamente limpas após cada refeição. Uma boa nutrição começa pela mastigação, e, dessa forma, é imperioso que haja zelo pela higiene e manutenção da saúde da boca, dos dentes e das próteses. Dentes malcuidados são sede frequente de focos de infecção e é necessário verificar regularmente as condições dos dentes remanescentes, assim como a condição das próteses. Se as próteses não estiverem ajustadas, poderão causar lesões e prejudicar a mastigação, e essas ocorrências levarão o paciente a preferir substâncias de consistência cada vez menor, com consequente comprometimento de seu estado nutricional.
O paciente deve ingerir líquidos em abundância com o propósito de promover um asseio indireto da boca. Pacientes que dormem sem ter realizado boa higiene bucal estão propensos a apresentar infecções das glândulas salivares (parotidite), que se manifestam por febre baixa, inchação da região com dor e mau hálito. O mau hálito é um sinal de que algo errado está ocorrendo e, por isso, deve ser convenientemente checado.


A grande maioria dos pacientes sente-se melhor quando estão barbeados. Os barbeadores elétricos são recomendáveis e mais seguros. Se o paciente rejeitar esse método, o barbear tradicional deverá ser feito com aparelhos adequados (que contenham lâminas de segurança). Os aparelhos que expõem a lâmina sem proteção são perigosos e, portanto, inadequados.
Essa atividade deve ser realizada preferencialmente pelo cuidador, em razão das dificuldades e dos perigos que apresenta.


A exemplo de muitas crianças, alguns pacientes costumam colocar os dedos na boca, para chupá-los ou roer as unhas. A umidade constante provocada pela saliva favorece o surgimento de lesões de pele e a passagem de bactérias das mãos para a boca e daí para o restante do aparelho digestivo. A manutenção de mãos limpas e unhas aparadas previne essas complicações.
Pacientes com elevado grau de deterioração mental podem apresentar determinados comportamentos compulsivos, chupando os dedos e roendo as unhas com tal frequência e intensidade que podem causar danos e complicações de alta seriedade. Nesses casos, o uso de luvas com ou sem dedos pode evitar, ou ao menos minorar, os efeitos desses distúrbios de ordem comportamental.


Os pés podem estar muito úmidos ou muito secos, o que dependerá do clima e da quantidade de ar que recebem.
As unhas devem ser aparadas a cada 2 ou 3 semanas, para manterem-se curtas. O corte reto sem que se aprofunde nos cantos evita que as unhas encravem. As meias de algodão são especialmente indicadas para os que transpiram muito, por absorverem a umidade. Andar descalço, se possível e seguro, nesses casos é saudável e faz que os pés recebam diretamente alguma insolação e aeração. As imersões dos pés em solução morna são relaxantes, removem a pele morta e favorecem o asseio. Massagens com o uso de loções hidratantes contribuem para a boa saúde dos pés.
Em pacientes diabéticos, esses cuidados devem ser redobrados, pois há risco de que uma lesão infectada evolua para a gangrena e consequente amputação. O corte das unhas deve ser feito por profissionais especializados (podólogos), e todas as lesões como calos, joanetes e micoses, tratadas pelo médico.
A possibilidade de complicações seríssimas que culminam com a gangrena e amputação justificam estas precauções.


Vários fatores influem na manutenção de uma pele saudável. Boa nutrição e ingestão adequada de líquidos contribuem significativamente e são fundamentais. Manter a pele hidratada e bem lubrificada à custa de cremes e soluções promove benefícios consideráveis.
A massagem aplicada após o banho, além de ser reconfortante e de ter efeito calmante, melhora a circulação e deve ser realizada com cremes hidratantes.
As úlceras por pressão (escaras de decúbito) são, por sua frequência e importância, as mais terríveis lesões de pele no paciente demenciado.


Independentemente do sexo do paciente, os cabelos devem ser preferencialmente curtos. Reservados os aspectos estéticos e mantidos os comprimentos dentro dos valores do bom senso e do gosto individual do paciente, os cabelos curtos são mais práticos, pois evitam a transpiração excessiva e eliminam ocorrências desagradáveis, como pedaços de comida ou cabelos imersos no prato durante as refeições, caso o paciente se debruce para comer. Especialmente nas senhoras , é aconselhável que os cabelos sejam lavados fora do horário do banho habitual.
A frequência dessas lavagens dependerá de fatores como clima, estado de saúde, costumes, sexo do paciente etc., porém duas vezes por semana é o mínimo aceitável.
Se a pessoa não se assusta com o secador, esse recurso deve ser usado. A temperatura do ar deve ser observada para evitar queimaduras.
Os xampus para crianças são recursos valiosos, pois não ardem quando atingem os olhos. Eles devem ser usados em pequena quantidade para facilitar um rápido enxágue.


Nos estágios iniciais da doença de Alzheimer, muitos pacientes detêm autonomia suficiente para satisfazer, com independência, suas necessidades fisiológicas. A manutenção dessa autonomia é de grande importância, aliviando o cuidador de uma tarefa pouco agradável, ao mesmo tempo que preserva a privacidade, a dignidade e o sentimento de independência.
Alguns pacientes necessitam que lhes mostrem onde o banheiro está localizado e que lhe desabotoem as vestes. Essa limitação pode ser minimizada e, por vezes superada, se as roupas forem adaptadas para calças com elásticos. A localização do banheiro deve ser bem sinalizada, por intermédio de artifícios criativos, que vão desde placas indicativas até a mudança da cor da porta, de preferência por uma cor berrante, setas pintadas, ilustradas por desenhos ou de papel-cartão afixadas nas paredes etc.
Um excelente método para manter essa atividade sob controle e supervisão é o registro. Registrando os horários normais de micção e os dias e horários das evacuações, esses dados formam um padrão de comportamento e necessidades, e, dessa forma, toda e qualquer alteração poderá ser imediatamente detectada e avaliada.
Se o cuidador conhece o padrão de micção do paciente e nota que ele está se atrasando demais, pode lembrá-lo e incentivá-lo a ir ao banheiro. De posse desses registros, podem-se predeterminar horários dentro da rotina cotidiana, acostumando o paciente a urinar e evacuar sempre nos mesmo horários. Normalmente, os pacientes evacuam uma vez ao dia, alguns chegam a evacuar a cada 3 dias, e outros até 2 vezes no mesmo dia. A frequência é menos importante que o padrão que apresentam dentro do espaço de uma semana.
Idas ao banheiro para urinar costumam apresentar uma frequência de 2 a 3 horas de intervalo. Determinados horários são obrigatórios para incentivar ou conduzir o paciente para as suas necessidades: ao levantar pela manhã e à noite, antes de deitar.
Pela manhã e após as refeições, em razão do reflexo gastroileocólico, que estimula o funcionamento intestinal, são os horários preferenciais para evacuação. A princípio pode haver alguma dificuldade para que os horários sejam cumpridos até que se tornem rotina.
Os hábitos de evacuação e micção rapidamente se adaptam a uma rotina preestabelecida e tornam-se uma vitória para o cuidador, me-lhorando em muito a convivência, e minimizam a carga de trabalho. Essa rotina é realmente positiva e deve ser adotada.
Além dos problemas do cotidiano, é sempre difícil para o cuidador deixar o que estava fazendo para auxiliar o paciente em suas necessidades fisiológicas, normalmente em horários inesperados e geralmente nos momentos mais atribulados. Além de conforto proporcionado ao cuidador, essa rotina também tranquiliza o paciente, que adapta seus hábitos ao dia a dia.
Um outro recurso de grande utilidade é a regularização do funcionamento intestinal por intermédio de dietas. Um profissional especializado em nutrição, em conjunto com o médico, pode auxiliar na confecção de um cardápio apropriado para esse fim específico. A restrição orientada e monitorada de líquidos a partir de um determinado horário pode evitar ou minimizar as micções noturnas, prevenindo acidentes de incontinência.
A troca, pelo médico se possível, de medicamentos de ação diurética por outro tipo de droga minimiza os transtornos com a micção. Alguns pacientes com dificuldade de expressão costumam indicar por gestos e atitudes suas necessidades. Alguns tentam abaixar as calças, outros emitem sons e gritos ou ficam agitados. Aprender a decifrar esses códigos auxilia e facilita a tarefa.
Alguns pacientes, mesmo dentro do banheiro e já tendo sido auxiliados com relação a suas roupas para realizarem as suas necessidades, não entendem o que devem fazer. Nesse caso, eles precisam ser instruídos verbalmente.
É importante também anotar nos registros as alterações de frequência, a coloração de fezes e urina, a presença de sangue, pus ou parasitas, dor à micção ou evacuação e outros fatos anormais, para serem comunicados ao médico.

Creditos: AlzheimerMed